Alguns aromas desvanecem rapidamente, outros liberam memórias quase
esquecidas. Em A lanterna, a romancista Deborah Lawrenson constrói,
através de duas narrativas simultâneas, um mosaico de lembranças que
transportam o leitor para um cenário sedutor e misterioso: Les
Genévriers, uma propriedade rural abandonada, localizada nos perfumados
campos de lavanda do sul da França, palco de segredos de família há
muito enterrado e de sensações inesperadas para os novos moradores da
casa.
Eve é uma tradutora sensível, impressionável e romântica, que se envolve
com Dom, um homem mais velho, compositor e pianista. Movidos por uma
relação arrebatadora, eles se afastam de amigos e familiares e se mudam
para Les Genévriers, local de grandes descobertas - câmaras e jazigos
secretos, uma linda lanterna de ferro. Ao mesmo tempo que investe na
reforma da casa, Eve tenta escrever um livro sobre as velhas lendas
provençais. A pesquisa sobre a vida na região e seus personagens se
mescla com a necessidade de desvendar o passado de Dom e a relação dele
com Rachel Summers, sua misteriosa ex-mulher.
Com a chegada do outono, o refúgio idílico se transforma em um cenário
assustador, tomado por sombras e mistério. O leitor se depara com a
trajetória de outras pessoas, que, curiosamente, ocupam o mesmo espaço,
mas não o mesmo tempo, e se perdem no labirinto de suas impressões.
Nesta narrativa, se desenha também em primeira pessoa os componentes da
família comandada por Memé Clementine, mãe da perfumista Marthe Lincel, a
sua filha mais velha, e que fica completamente cega aos treze anos;
Pierre, o filho do meio, com um temperamento perverso desde a infância e
Benedict, a caçula, a maior vítima da violência e dominação do irmão. É
ela quem narra a segunda história.
O leitor só vai juntar as peças do quebra-cabeça ao final. Em ambas as
histórias, a lanterna é um objeto fundamental para que se desvendem os
mistérios da existência, do amor e da morte. Deborah Lawrenson
acrescenta elementos góticos numa narrativa moderna, num jogo de luz e
sombras que dá ritmo ao romance. Em A lanterna, o passado e seus
fantasmas se revelam lentamente. E tudo tem possibilidade de se iluminar
novamente
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