sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Filhos do Éden - Manuscrito Sagrado Dos Malakins


O MANUSCRITO SAGRADO DOS MALAKINS
POUCOS SABEM COMO COMEÇOU. Ou O QUE HAVIA ANTES. NÃo QUE
ISSO importe, realmente. Porque não houve um antes. Aconteceu
em um tempo em que o próprio tempo não existia, e a matéria não
passava de um grão de energia, flutuando na sombra do espaço.
Guerra. Luz e trevas. Lei e ordem. Claro e escuro. Bem e mal.
Sobreveio a explosão. Indescritível. Inimaginável. Ensurdecedora.
O universo se expandiu, lançando fragmentos na negritude,
formando ondas de poeira cósmica, dando origem às dimensões
paralelas. Mundos inteiros foram criados. Estrelas nasceram e
morreram, nebulosas surgiram nos oceanos de plasma. Galáxias se
condensaram.
Por bilhões de anos, os alados vagaram sozinhos, intocáveis no santuário
infinito. E, quando o sexto dia terminou, Deus estava
orgulhoso de seu trabalho. De todas as maravilhas, a espécie
humana foi a que ele mais adorou: sua criação podia aprender,
evoluir e amar.
Yahweh partiu para o descanso do sétimo dia e deixou aos cinco
arcanjos a tarefa de comandar os celestes, reger o paraíso e servir à
humanidade, sem interferir em seu curso. Mas, inflados de ciúme e
luxúria, os primogênitos invejaram a raça mortal. Miguel, o
Príncipe dos Anjos, decidiu que os homens não eram herdeiros
dignos de Deus e resolveu tomar a terra de assalto. Enviou
assassinos, fomentou cataclismos, explodiu vulcões, provocou
terremotos e congelou o planeta.
O paraíso se dividiu. A primeira revolta foi esmagada, e os conspiradores,
expulsos. A tensão entre os gigantes cresceu, culminando
numa batalha devastadora, que secionou para sempre as hostes
divinas. Lúcifer, o Arcanjo Sombrio, desafiou a autoridade do
onipotente Miguel, atraindo um terço das legiões para sua causa.
Mas suas ambições eram igualmente malignas e, vencidos, os anjos
caídos foram atirados ao inferno, onde aguardam o momento
oportuno para completar sua vingança.
Milênios mais tarde, os focos da rebelião, sufocados no princípio,
se reacenderiam numa nova chama. O arcanjo Gabriel, servo mais
leal do Príncipe Celeste, recebeu a missão de descer à Haled para
planejar uma nova catástrofe. Mas, em seus corpos terrenos, os
anjos são vulneráveis aos sentimentos carnais. Pela primeira vez,
ele provou o calor da alma humana e entendeu o amor que sentia
por Deus. Repudiou as ordens do irmão e assim começou uma nova
guerra, a guerra civil, a eterna disputa pelo paraíso, que persiste até
hoje.
Reunidos no Primeiro Céu, Gabriel e os exércitos rebeldes
iniciaram uma gigantesca campanha contra as forças legalistas,
estacionadas na quinta camada. O Quarto Céu, Acheron,
transformou-se numa violenta zona de combate, onde os
querubins lutam dia e noite há mais de dois mil anos.
Quando os revoltosos avançaram, derrubando fortalezas e
ganhando posição, Miguel, temeroso de perder o trono, ordenou o
Haniah, o Retorno, determinando que todos os seus aliados que
atuavam ou estivessem no plano material regressassem
imediatamente. Com o contingente inimigo aumentando, Gabriel
fez o mesmo, e a Haled foi abandonada. Os vórtices de acesso às
dimensões superiores foram fechados, restando alguns poucos,
guardados por poderosos vigias.
A casta dos elohins, cuja natureza é viver entre os homens, obteve
permissão especial para continuar no mundo físico, assim como
outros desgarrados, que se recusaram a voltar. A única condição
era que não interviessem no rumo da guerra e estivessem prontos
para servir a seus arcanjos quando o dever os chamasse.
Enquanto o paraíso queima num embate de sangue e espadas, os
dois lados estabeleceram um armistício na terra - uma trégua frágil
e delicada, que pode desmoronar a qualquer instante.
Isolada no Sexto Céu, a ordem dos malakins traçou suas previsões.
Aquela não seria mais uma guerra. Havia começado.
Era o princípio do fim.

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