quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Maldição do Tigre Capitulo 2


2
O circo

O despertador me arrancou de um sono profundo às 4h30 da manhã. O clima ficaria ameno. Os dias no Oregon raramente eram quentes demais. Algum governante deve ter aprovado uma lei muito tempo atrás determinan­do que o estado teria sempre temperaturas moderadas.
Estava amanhecendo. O sol ainda não havia vencido as montanhas, mas o céu já estava clareando, dando às nuvens no horizonte, a leste, um tom cor-de-rosa de algodão-doce. Devia ter chuviscado durante a noite, porque eu podia sentir um cheiro agradável de grama molhada.
Pulei da cama, liguei o chuveiro, esperei até o banheiro ficar quente e cheio de vapor, e então entrei no boxe e deixei a água quente bater em mi­nhas costas para acordar os músculos sonolentos.
O que se veste para trabalhar num circo? Sem saber o que seria adequado, pus uma camiseta de mangas curtas e calça jeans. Depois calcei meus tênis, sequei os cabelos com a toalha e fiz rapidamente uma trança que amarrei com uma fita azul. Em seguida apliquei um pouco de brilho labial e voilà: meu traje de circo estava completo.
Hora de fazer a mala. Imaginei que não ia precisar levar muita coisa, somente umas poucas peças que me deixassem confortável, até porque ficaria lá apenas duas semanas e sempre poderia dar um pulo em casa. Vasculhei o armário e escolhi três conjuntos de roupas. Abri as gavetas da cômoda, peguei algumas meias e enfiei tudo em minha infalível mochila da escola. Então juntei produtos de higiene, alguns livros, meu diá­rio, algumas canetas e lápis, minha carteira e as fotos da minha família. Enrolei a colcha de retalhos, apertei-a por cima de tudo e forcei o zíper até fechar.
Desci a escada com a mochila no ombro. Sarah e Mike já estavam acor­dados, tomando o café da manhã. Eles acordavam absurdamente cedo todos os dias para correr.
-  Oi, bom dia, pessoal - murmurei.
-  Oi, bom dia para você também - disse Mike. - Está pronta para começar no emprego novo?
-  Estou. Vou vender ingressos e fazer companhia a um tigre por duas semanas. Não é ótimo?
Ele deu uma risadinha.
-  É, parece bem legal. Mais interessante do que a administração pública, pelo menos. Quer uma carona? Vou passar pelo parque de exposições a ca­minho da cidade.
Eu sorri para ele.
-  Claro. Obrigada, Mike - respondi.
Com a promessa de ligar para Sarah regularmente, peguei uma barrinha de cereais, me forcei a engolir meio copo de leite de soja e me dirigi para a porta com Mike.
Chegando ao parque de exposições, vi uma grande placa azul na rua anunciando os próximos eventos. Numa faixa larga e chamativa, lia-se:

O PARQUE DE EXPOSIÇÕES DO CONDADO DE POLK DÁ AS BOAS-VINDAS AO CIRCO MAURIZIO APRESENTANDO OS ACROBATAS MAURIZIO E O FAMOSO DHIREN!

Vamos nessa. Suspirei e comecei a percorrer o caminho de cascalho na di­reção da construção principal. O complexo central parecia um grande avião ou um bunker militar. A pintura estava rachada e descascando em alguns pontos, e as janelas precisavam ser lavadas. Uma grande bandeira americana tremulava ao vento, enquanto a corrente à qual estava presa tilintava suave­mente contra o mastro de metal.
O parque de exposições era formado por um estranho grupo de edifícios antigos, um pequeno estacionamento e um caminho de terra que serpen­teava entre todos os pontos e cercava o perímetro. Dois caminhões-plataforma compridos estavam estacionados ao lado de várias tendas de lona branca. Cartazes do circo pendiam por toda parte - havia pelo menos um cartaz grande em cada edifício. Alguns retratavam acrobatas. Outros tinham fotos de malabaristas.
Não vi nenhum elefante e deixei escapar um suspiro de alívio. Se houvesse elefantes por aqui, eu provavelmente já teria sentido o cheiro deles.
Um cartaz rasgado esvoaçava na brisa. Peguei-o pela borda e o alisei sobre o poste. Era a foto de um tigre branco. Muito prazer!, pensei. Espero que seja só um... e que não goste de devorar adolescentes.
Abri a porta do edifício principal e entrei. A área central havia sido trans­formada em um circo de um só picadeiro. Fileiras de cadeiras vermelhas estavam empilhadas junto às paredes.
Havia algumas pessoas conversando em um dos cantos. Um homem alto, que parecia o encarregado, estava um pouco afastado do grupo, escrevendo em uma prancheta e inspecionando caixas. Segui direto para ele e me apresentei.
-  Oi, meu nome é Kelsey. Sua funcionária temporária.
Ele me olhou de cima a baixo enquanto mascava alguma coisa, que então cuspiu no chão.
-  Dê a volta por trás, saindo por aquelas portas ali, e dobre à esquerda. Você vai ver um trailer preto e prateado estacionado.
-  Obrigada!
A cusparada de fumo me enojou, mas consegui sorrir para ele mesmo assim. Segui para o trailer e bati à porta.
-  Só um minuto - gritou uma voz masculina.
A porta se abriu inesperadamente rápido e eu dei um pulo para trás. Um homem de túnica avultou-se à minha frente, rindo de minha rea­ção. Ele era muito alto, fazendo meu 1,70 metro parecer a estatura de um anão, e tinha uma barriga proeminente. Cabelos negros e encaracolados cobriam seu couro cabeludo, mas a linha do cabelo começava um pouquinho além de onde deveria estar. Sorrindo para mim, ele ergueu a mão para pôr a peruca no lugar. Um bigode fino e preto, com as extremidades enroladas em duas pontas finas, projetava-se acima dos lábios. Também tinha uma barbicha quadrada no queixo.
-  Não se intimide com a minha aparência - disse ele.
Baixei os olhos e fiquei vermelha.
-  Não estou intimidada. E que parece que eu o peguei de surpresa. Des­culpe se o acordei.
Ele riu.
-  Eu gosto de surpresas. Elas me mantêm jovem e bonito.
Dei uma risadinha, mas a interrompi rapidamente ao lembrar que era provável que aquele fosse meu novo chefe. Pés de galinha cercavam seus olhos azuis cintilantes. A pele era bronzeada, o que destacava o sorriso de dentes brancos e grandes. Ele parecia o tipo de homem que estava sempre rindo de uma piada que só ele sabia qual era.
Com uma ribombante voz teatral, com forte sotaque italiano, ele perguntou:
-  E quem seria você, jovem?
Sorri, nervosa.
-  Oi. Meu nome é Kelsey. Fui contratada para trabalhar aqui por algumas semanas.
Ele se inclinou para me cumprimentar. A mão dele envolveu completa­mente a minha e ele a sacudiu para cima e para baixo, com entusiasmo sufi­ciente para fazer meus dentes chacoalharem.
-  Ah, stupendo! Que oportuno! Bem-vinda ao Circo Maurizio! Estamos um pouco... como se diz, com pouca mão de obra, e precisamos de alguma assistenza enquanto permanecermos em sua magnifica città. É esplêndido tê-la aqui! Vamos começar all’istante.
Ele olhou para uma garota loura bonita, de uns 14 anos, que estava pas­sando.
-  Cathleen, leve esta giovane donna para Matt e diga-lhe que está incaricato de treiná-la hoje. - Voltou-se novamente para mim. - Prazer em conhecê-la, Kelsey. Espero que te piacia, ah, que você goste de trabalhar aqui em nossa piccola tenda di circo!
-  Obrigada. Foi um prazer conhecê-lo também - repliquei.
Ele piscou para mim, então deu meia-volta, entrou em seu trailer e fechou a porta.
Cathleen sorriu e me levou, dando a volta no edifício, até os alojamentos do circo.
-  Bem-vinda ao grande... é, bem, pequeno circo! Venha comigo. Poderá dormir na minha tenda, se quiser. Tem algumas camas extras lá. Minha mãe, minha tia e eu dividimos o espaço. Viajamos com o circo. Minha mãe e minha tia são acrobatas. Nossa tenda é legal, se puder ignorar todos aqueles trajes de espetáculo.
Ela me levou até sua tenda. Guardei a mochila debaixo da cama vaga e olhei à minha volta. Ela tinha razão sobre os trajes. Rendas, lantejoulas, penas e peças de lycra cobriam todas as superfícies da tenda espaçosa. Havia também uma mesa espelhada e iluminada com maquiagem, escovas de cabelo, gram­pos e bobes espalhados sobre cada centímetro quadrado da superfície.
Em seguida, encontramos Matt, que parecia ter 14 ou 15 anos. Tinha ca­belos castanhos e curtos, olhos também castanhos e um sorriso despreo­cupado. Estava tentando montar sozinho uma barraca de venda de ingressos
-  sem sucesso.
-  Oi, Matt - disse Cathleen, enquanto segurávamos a base da barraca para ajudá-lo.
Ela enrubesceu. Que gracinha.
-  Esta é a Kelsey - continuou Cathleen. - Vai ficar aqui duas semanas. É você quem vai explicar tudo a ela.
-  Sem problemas - disse ele. - Até já, Cath.
- Até.
Ela sorriu e se foi.
-  Então, Kelsey, acho que vai ser minha assistente hoje. Você vai adorar - disse ele, brincando comigo. - Eu cuido das barracas de ingressos e de souvenirs, e também sou o lixeiro e o estoquista. Basicamente, faço tudo que precisa ser feito por aqui. Meu pai é o domador dos animais.
-  Que emprego legal o dele - repliquei. - Bem, pelo menos parece melhor do que lixeiro.
Matt riu.
-  Vamos ao trabalho! - disse ele.
Passamos as horas seguintes arrastando caixas, reabastecendo as barracas e preparando tudo para o público.
Ai, estou fora deforma, pensei enquanto meus bíceps protestavam.
Papai costumava dizer que o trabalho duro mantém você centrado sempre que mamãe inventava um projeto novo e árduo, como plantar um jardim. Ele era infinitamente paciente e, quando eu me queixava do trabalho extra, ele se limitava a sorrir e dizer: "Kells, quando você ama alguém, aprende a dar e receber. Um dia isso vai acontecer com você."
Por algum motivo, eu duvidava de que essa fosse uma daquelas situações.
Quando estava tudo pronto, Matt me mandou até Cathleen para que eu me trocasse e vestisse uma roupa do circo - que vinha a ser dourada e bri­lhante, algo de que eu normalmente não teria nem me aproximado.
É melhor que este emprego valha o sacrifício, murmurei baixinho, enfiando a cabeça pela gola cintilante.
Vestida em meu novo traje, fui até a barraca de ingressos e vi que Matt havia instalado a tabuleta de preços. Ele me aguardava com instruções, uma caixa com chave e os ingressos. Também havia me trazido uma sacola com o almoço.
-  É hora do espetáculo. Coma isto depressa. Os ônibus de um acampa­mento infantil estão a caminho.
Antes que eu pudesse terminar de comer, as crianças do acampamento avançaram sobre mim em uma estridente confusão. Meu sorriso de aten­dimento ao cliente provavelmente parecia mais uma careta assustada. Não havia para onde eu correr. Elas me cercavam por todos os lados, cada uma gritando por atenção.
Os adultos se aproximaram e eu perguntei, esperançosa:
-  Vocês vão pagar por todos os ingressos de uma vez?
-  Ah, não - respondeu um dos professores. - Decidimos deixar cada criança comprar o próprio ingresso.
-  Ótimo - murmurei com um sorriso amarelo.
Cathleen logo se juntou a mim e trabalhamos até ouvirmos a música do início do espetáculo. Fiquei ali sentada por mais uns 20 minutos, mas nin­guém apareceu, então tranquei a caixa do dinheiro e encontrei Matt dentro da tenda assistindo ao espetáculo.
O homem que eu conhecera mais cedo naquela manhã era o apresentador.
-  Qual é o nome dele? - perguntei a Matt em um sussurro.
-  Agostino Maurizio - respondeu ele. - É o dono do circo e os acrobatas são todos da família dele.
O Sr. Maurizio chamou os palhaços, os acrobatas e os malabaristas, e co­mecei a me divertir com o espetáculo. Logo depois, porém, Matt me cutucou e me indicou a barraca de souvenirs. O intervalo ia começar em breve: hora de vender balões de gás.
Juntos, enchemos dezenas de balões multicoloridos usando um tanque de hélio. As crianças estavam frenéticas! Corriam por todas as barracas e contavam suas moedas, querendo gastar cada centavo.
Matt recebia o dinheiro enquanto eu enchia os balões. Eu nunca tinha feito aquilo antes e estourei alguns, o que assustou as crianças, mas tentei transformar os estouros ruidosos em uma brincadeira, gritando "Ooopa!" todas as vezes que isso acontecia. Logo, logo todas elas estavam gritando "Ooopa!" junto comigo.
A música recomeçou e as crianças correram de volta aos seus lugares, agarradas a suas diversas aquisições. Vários meninos haviam comprado es­padas que brilhavam no escuro e agora as agitavam no ar, ameaçando uns aos outros alegremente.
Quando nos sentamos, o pai de Matt entrou no picadeiro para fazer seu número com os cães. Então foi novamente a vez dos palhaços, que fizeram várias brincadeiras com membros da plateia. Um deles jogou um balde de confete sobre as crianças.
Maravilha! Provavelmente vou ter que varrer tudo isso.
Em seguida, o Sr. Maurizio reapareceu. Uma dramática música de safári começou a tocar e as luzes do circo se apagaram. Apenas um holofote ilumi­nava o apresentador no centro do picadeiro.
-  E agora... o ponto alto do nosso spettacolo! Ele foi tirado das selvas da índia e trazido aqui para os Estados Unidos. É um caçador feroz que espreita sua presa na floresta, atento, esperando o momento certo, e então... salta para o ataque!
Enquanto ele falava, homens trouxeram uma jaula grande e redonda. Ti­nha o formato de uma tigela gigante emborcada, com um túnel de arame acoplado a um dos lados. Eles a deixaram no centro do picadeiro e prende­ram cadeados em anéis de metal engastados em blocos de cimento.
O Sr. Maurizio prosseguiu. Ele rugia no microfone e as crianças todas pu­lavam em suas cadeiras. Dei risada dos movimentos teatrais do Sr. Maurizio. Ele era um bom contador de histórias.
-  Este tigre é um dos predadores mais perigosos do mundo inteiro! - afir­mou ele. - Observem com atenção nosso domador arriscar sua vida para lhes trazer... Dhiren!
Ele jogou a cabeça para a direita e então deixou o palco correndo en­quanto o foco do holofote deslizava para as abas da lona na extremidade da construção. Dois homens haviam arrastado até ali um antigo vagão de animais.
O vagão tinha um teto branco, curvo e de bordas douradas, grandes rodas pretas pintadas de branco nas extremidades e raios ornamentais esculpidos que haviam sido pintados de dourado. Barras de metal pretas subiam de ambos os lados do vagão formando um arco no alto.
Uma rampa saindo da porta foi presa ao túnel de arame no momento em que o pai de Matt entrou na jaula. Ali dentro, ele arrumou três banquetas. Vestia um traje dourado impressionante e brandia um chicote curto.
-  Soltem o tigre! - ordenou.
As portas do vagão se abriram e um homem cutucou o animal pelo lado de fora. Prendi a respiração quando um enorme tigre branco surgiu, desceu a rampa e entrou no túnel. Um instante depois, ele estava na jaula grande, com o pai de Matt. O chicote estalou e o tigre saltou para uma banqueta. Outra chicotada e o tigre se ergueu nas patas traseiras, arranhando o ar com suas garras. A multidão irrompeu em aplausos.
O tigre saltou de banqueta em banqueta enquanto o pai de Matt seguia afastando as banquetas cada vez mais. No último salto, prendi a respiração. Eu não tinha certeza se o tigre conseguiria alcançar a banqueta seguinte, mas o pai de Matt o encorajava. Retesando-se, o animal se abaixou, avaliou cuidadosamente a distância e então saltou, transpondo o espaço.
Seu corpo inteiro se manteve no ar durante vários segundos, com as per­nas estiradas à frente e atrás. Era um animal magnífico. Alcançou a banqueta com as patas dianteiras e pousou as patas traseiras graciosamente. Virando-se no pequeno banco, ele girou o corpo imenso com facilidade e se sentou de frente para o domador.
Aplaudi por muito tempo, totalmente impressionada com a grande fera.
O tigre rugiu a um comando, ergueu-se nas patas traseiras e agitou as pa­tas dianteiras no ar. O pai de Matt gritou mais um comando. O tigre desceu da banqueta com um salto e correu em círculo pela jaula. O domador fez o mesmo, mantendo os olhos fixos no animal. Ele segurava o chicote logo atrás da cauda do tigre, estimulando-o a continuar correndo. O pai de Matt fez um sinal e um rapaz passou uma grande argola pelas grades da jaula. O tigre saltou por ela, então virou-se rapidamente e repetiu o salto várias vezes.
O último número do domador foi pôr a cabeça dentro da boca do tigre. Uma onda de silêncio envolveu a multidão e Matt retesou-se. O tigre abriu a boca enorme. Vi os dentes afiados e me inclinei para a frente, preocupada. O pai de Matt aproximou lentamente sua cabeça do tigre. O animal piscou algumas vezes, mas manteve-se firme, e suas poderosas mandíbulas escancararam-se ainda mais.
O pai de Matt baixou a cabeça, enfiando-a na boca do tigre. Após alguns segundos, ele tirou a cabeça devagar. Quando estava livre e já havia se afas­tado do tigre, o público aplaudiu, enquanto ele se curvava várias vezes, agra­decendo. Outros ajudantes apareceram para ajudar a levar a jaula.
Meus olhos foram atraídos para o tigre, que agora estava sentado em uma das banquetas. Vi que ele movia a língua, franzindo a cara, como se farejasse algo curioso. Quase parecia que ele estava engasgado, como um gato que en­gole uma bola de pelos. Então ele se sacudiu e ficou ali calmamente sentado.
O pai de Matt ergueu as mãos e ganhou mais aplausos. O chicote tornou a estalar e o tigre saltou da banqueta, voltou correndo pelo túnel, subiu a rampa e entrou em seu vagão. O pai de Matt saiu correndo do picadeiro e desapareceu atrás da cortina de lona.
- O Grande Dhiren! - gritou o Sr. Maurizio dramaticamente. - Mille grazie! Muitíssimo obrigado por virem ao Circo Maurizio!
Quando a jaula do tigre passou diante de mim, tive uma vontade súbita de acariciar-lhe a cabeça e confortá-lo. Eu não sabia se tigres podiam demons­trar emoções, mas por algum motivo eu tinha a impressão de que podia sentir seu estado de espírito. Parecia melancólico.
Exatamente nesse momento, uma brisa suave me envolveu com o perfume de jasmim e de sândalo, sobrepujando o forte aroma de pipoca com man­teiga e algodão-doce. Meu coração disparou enquanto um arrepio percorria meus braços. Mas, tão rápido quanto veio, o cheiro delicioso desapareceu e senti um inexplicável vazio na boca do estômago.
As luzes se acenderam e as crianças começaram a sair em debandada da arena. Meu cérebro ainda estava ligeiramente confuso. Devagar, levantei-me e me virei para fitar a cortina atrás da qual o tigre havia desaparecido. Um leve vestígio de sândalo e uma sensação inquietante persistiam.
Ah! Devo ter algum transtorno mental.
O espetáculo havia acabado e eu estava completamente louca.

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